quinta-feira, 10 de novembro de 2022

MOSSORÓ PERDE CHICO GUILHERME



Mossoró perdeu, no último domingo, um de suas figuras mais importantes. Morreu, aos 91 anos, vítima de infecção generalizada – provocada por infecção urinária e diabetes - Francisco Guilherme de Souza, o popular Chico Guilherme.

"Seu Chico" parte deixando seu exemplo de vida e de luta e sua contribuição para transformar este nosso mundo e este nosso torrão de Santa Luzia de Mossoró mais humano.

Conhecido por sua atuação forte, seja como sindicalista, comunista, revolucionário, seja no Sindicato do Garrancho/Sindicato dos Salineiros, seja na criação de seus filhos. Exemplo de dignidade e altivez, mansidão e coragem. Seu corpo foi velado na Igreja do Perpétuo Socorro e o sepultamento ocorreu às 11 horas de ontem, no Cemitério São Sebastião.

Como reconhecimento por toda a sua luta, Chico Guilherme foi agraciado, no ano 2000, pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) com o Título de Doutor Honoris Causa

QUEM ERA - Francisco Guilherme de Souza nasceu em 19 de outubro de 1910, na cidade de Mossoró. Aos 16 anos começou a trabalhar como operário nas salinas. Casou em 1931 com dona Francisca Clara de Souza (mulher de fibra e coragem), com quem viveu 56 anos e teve 16 filhos, tendo sobrevivido às dificuldades da vida apenas oito.

Foi fundador, juntamente com Manoel Torquato, do Sindicato dos Trabalhadores em Salinas, conhecido inicialmente como Sindicato do Garrancho. Foi membro do Partido Comunista do Brasil e da Aliança Nacional Libertadora. Integrou a lista dos presos políticos do Rio Grande do Norte em 1936, tendo cumprido pena na Colônia Correcional Dois Rios, na Ilha Grande.

Julgado pelo Tribunal de Segurança Nacional e enquadrado na lei de Segurança Nacional foi condenado a cumprir dois anos de prisão com trabalhos forçados. Foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Industria de Extração de Sal do Rio Grande do Norte por 4 mandatos (1946 a 1952). Foi vereador pelo município e Mossoró por duas legislaturas (1950 e 1954).

Trabalhou na Fundação Rockfeller no combate à febre amarela, de onde foi demitido por perseguição política. Atuou ainda como salineiro, carroceiro, caminhoneiro, taxista, profissão que exerceu até 1985, quando não mais conseguiu renovar sua habilitação.

"Seu" Chico tem sua vida apresentada em diversos trabalhos acadêmicos, teses e dissertações de mestrado e doutorado como as produzidas pela Dra. Brasília Carlos Ferreira (UFRN), Dr. Homero Costa (UFRN), Dr. Aécio Candido de Souza (UERN). "Seu" Chico fez história. Contribuiu com a formação para a vida e para a cidadania de centenas de pessoas, com sua simplicidade, doçura e exemplo de generosidade, honradez e solidariedade.

FONTE -.dhnet.org.br/memoria

FRANCISCO GUILHERME DE SOUZA

 


Francisco Guilherme de Souza (1910-2002)

Francisco Guilherme de Souza nasceu em 19 de outubro de 1910, filho primogênito de pobres agricultores, Ricardo Guilherme de Lima e Maria Francisca de Souza; logo cedo, aos 12 anos, começou sua labuta, como carregador de água. Posteriormente, aos 16 anos, passa a integrar a grande massa trabalhadora das salinas; trabalho que naquela região representava o único caminho a seguir. Iniciava-se, para Chico Guilherme, como tão carinhosamente era conhecido, um mundo de afazeres extremamente insalubre e desigual, com grandes dificuldades, sem direitos trabalhistas, mal-tratados, mal-alimentados;

Para se chegar às salinas era preciso percorrer 18 Km a pé. Os salineiros não utilizavam nenhum equipamento de proteção, e para evitar a cegueira, consequente da intensa luminosidade, causada pelo reflexo do sol nos montes brancos de sal, a colheita do sal começa pela madrugada. Com o decorrer do tempo muitos trabalhadores ficavam cegos.

As pranchas por onde trafegavam com o sal, eram escorregadias, provocando muitas vezes quedas. E não havia assistência médica. Durante a noite, alojavam-se em grandes galpões abertos nas laterais. A alimentação era comprada no armazém do dono da salina, e no final do mês restava um mísero salário. Os balaios, no qual transportavam o sal, provocavam calos nos ombros e furúnculos (que eles chamavam de “maxixes”), causados pelas impurezas do sal.

 

Há um fato que Chico Guilherme descreve, que permaneceu em sua memória como símbolo da indignação no qual vivia. Haviam os feitores, homens de confiança do patrão, que vigiavam aqueles que trabalhavam incansavelmente, estes feitores costumavam dizer que tinham nojo que seus cavalos bebessem água no mesmo tonel que os operários. Esta é uma pequena amostra do trabalho insalubre e humilhante dos trabalhadores das salinas naquele momento.

Abro um parêntese, a fim de relatar a aproximação entre os trabalhadores citados e o Partido Comunista do Brasil. Na cidade de Mossoró, o Partido Comunista foi fundado em 1928, pelos irmãos Reginaldo (Raimundo, Lauro, Jonas e Manoel). Anteriormente, em 1910, foi criada a Liga Operária, uma associação que defendia a classe trabalhadora.

Após a organização e a fundação do Partido, começa-se a aglutinar operários, tendo como atuação prioritária a formação dos sindicatos. E, foi assim, que em 1931, Chico Guilherme entra no Partido Comunista, fato que marcou toda sua trajetória de vida, de luta por um ideal. Neste mesmo ano é criada a Associação dos Trabalhadores na Extração do Sal, a qual Chico Guilherme faria parte em 1932.

 

Junto a outros sindicalistas, passa a reivindicar seus direitos; num primeiro momento, de caráter econômico e de melhores condições de trabalho, posteriormente, a liberdade de companheiros, que vítimas da repressão, eram presos.

 

Nas décadas de 30 e 40 o Estado Novo, o Governo Vargas, tinha uma só linguagem, a do autoritarismo e da repressão. E em Mossoró, política local era conduzida da mesma forma. Surge, portanto, o Sindicato do Garrancho, onde homens, membros da Associação dos Trabalhadores da Extração do Sal, se reuniam sob árvores nos arredores de Mossoró e lá traçavam estratégias para as próximas lutas. O Sindicato do Garrancho foi a maior prova de obstinação, coragem e persistência de homens que lutavam pela garantia de seus direitos.

A partir de então, as perseguições aumentaram cada vez mais, e alguns sindicalistas não podiam ao menos se dirigir a cidade que logo eram presos. Surge então a Guerrilha, a Luta Armada, como alternativa de sobrevivência; Um grupo de 50 homens que tinha como líder Manoel Torquato. Denominados, pelos “donos do poder”, de Bandoleiros Vermelhos. Estes percorriam aquela região, esperando por um grande movimento que estaria por vir, e só então poderiam retornar aos seus lares.

Enfim, aconteceu o momento esperado, o Levante Comunista deflagrado em Natal a 23 de novembro de 1935, prenunciava um novo tempo, tempo em que o povo chegaria ao poder. Mas, por algumas circunstâncias, entre as quais a resposta insatisfatória da senha, provocou a não consolidação do levante na cidade de Mossoró. Existia, ali, um campo fértil; os sindicatos, a guerrilha, os simpatizantes, que esperavam apenas um sinal, mas que veio de outra forma.

E assim, iniciava-se uma das maiores perseguições e atrocidades a homens que lutavam por um ideal. Chico Guilherme e outros companheiros foram deportados para Ilha Grande, na Colônia Correcional Dois Rios, no Rio de Janeiro. Chico Guilherme permaneceu nesta prisão por seis meses. Foi julgado pelo Tribunal de Segurança Nacional e condenado a 02 anos de prisão com trabalhos forçados, em Mossoró.

Abro um segundo parêntese para falar de Francisca Clara de Souza, companheira de Chico Guilherme, mulher batalhadora, forte, mãe leoa, atuante. Com Chico Guilherme teve 16 filhos, nos quais 08 não sobreviveram às precárias condições que viviam. Francisca Clara e outras mulheres como Policárpia e Anita (companheira de Joel Paulista), fundaram a Associação das Mulheres Trabalhadoras de Mossoró, tendo importante papel nas articulações, principalmente nos períodos de greves, e em defesa de seus direitos.

Naquele período o Sindicato foi totalmente esfacelado e Chico Guilherme ao retornar a liberdade percorreu as salinas onde encontrou um quadro de lamentações e injustiças. Unindo-se a Joel Paulista, Manoel Moreira e João Crisóstomo, reestruturaram o Sindicato, já que durante o período que estavam presos, os operários se reuniam sob a proteção do Bispo Dom Jaime, o qual os políticos locais tinham respeito.

Convocaram então um representante do Ministério do Trabalho, que oficializaria o sindicato, tirando-o da clandestinidade; atendendo ao chamado e percebendo a grande liderança que Chico Guilherme tinha perante os trabalhadores, sugeriu que este repudiasse o Partido Comunista e se tornasse presidente do Sindicato. Chico Guilherme recusou veementemente retornando ao mesmo somente após sua Anistia Política e a liberação do Atestado de Ideologia, em 1946; presidindo-o por 02 anos e permanecendo na sua Diretoria até 1952.

Neste ínterim, exerceu um cargo eletivo de vereador, por dois mandatos consecutivos. Eleito na primeira vez pelo Partido Republicano, que apoiava Cristiano Machado, e durante o segundo mandato fazia parte de uma coligação de vários partidos pela Aliança Democrática, tendo como líderes Vingt Rosado e Dix-uit Rosado. A sua preocupação era com os trabalhadores das salinas, pois elaborou vários projetos onde procurava minimizar o sofrimento daqueles que conhecia tão bem. Dentre estes projetos destacam-se a construção de uma estrada carroçável entre as cidades de Mossoró e Grossos, margeando as salinas, para facilitar o transporte dos trabalhadores durante o inverno, esta beneficiou a população das localidades de Ema, Tabuleiro Alto, Jurema, Baixa Grande e Carro Quebrado, além da própria cidade de Grossos. Também durante seu pleito, batalhou pela instalação de linhas telefônicas para as cidades de Grossos e Areia Branca; Escolas primárias nas localidades de Suçuarana, Piquiri, Amaro, Passagem de Pedras, Barrinha, Alagoinha, Jurema, Lajedo e Pau D’arco.

Não mais voltou a trabalhar nas salinas, passando a ser motorista de um misto (veículo metade ônibus e metade caminhão), que trafegava entre as cidades de Mossoró e Areia Branca; exercendo depois a profissão de taxista até 1983, ao aposentar-se.

Dentre algumas homenagem e títulos que recebeu durante sua vida, destacam-se: Mérito Proletário, concedido pelo Partido Comunista Brasileiro, em 21 de abril de 1988, na cidade de Mossoró; Diploma em homenagem a Defesa do Monopólio Estatal do Petróleo, pelo Sindicato dos Petroleiros – RN, em 14 de fevereiro de 1995, na cidade supra citada.

A Universidade Estadual do Rio Grande do Norte concedeu-lhe o título de Doutor Honoris Causa, em 19 de Outubro de 2000, data que completava 90 anos. Doutor da vida. Doutor do povo, doutor dos oprimidos, daqueles que buscam um mundo isento de desemprego, subemprego, de preconceitos, de crianças morrendo de desnutrição, abandono; que anseiam um mundo de solidariedade, justiça, de verdadeiras políticas públicas, um mundo de homens cidadãos.

Também foi Homenageado Pela Câmara Municipal de Natal, a 23 de novembro de 2001, numa sessão especial em homenagem aos remanescentes da Insurreição Comunista de 1935, juntamente com Francisco Meneleu dos Santos, Glicério Sátiro de Lucena (in memoriam). A 10 de dezembro de 2001 recebeu o VIII Prêmio de Direitos Humanos Emanoel Bezerra dos Santos, no Solar Bela Vista, na cidade de Natal.

Diversos livros e obras descrevem sua luta e a de seus companheiros: Sindicato do Garrancho, da Dra. Brasília Ferreira; Sindicato do Garrancho, Um Ideal Nunca Morre, de sua neta, enfermeira, bacharel em história, Meine Siomara Alcântara; A Ópera do Garrancho, dos mossoroenses Crispiniano Neto e Aécio Cândido; entre outros.

Chico Guilherme nos deixa um legado de lutas, de coerência política e dignidade humana; um homem que em toda sua vida buscou melhorias para o povo mossoroense; foi um agente ativo de nossa história, deu-nos força para acreditar num sonho de liberdade e de um mundo melhor.

Chico Guilherme, faleceu em 2002

FONTE -.dhnet.org.br/memoria

FRANCISCA CLARA DE SOUZA

 


Francisca Clara de Souza, esposa de Francisco Guilherme de Souza, participou da diretoria da Associação de Mulheres Trabalhadoras de Mossoró/RN

FONTE -.dhnet.org.br/memoria

MEDALHA DO MÉRITO SOCIAL CHICO GUILHERME

 


RESOLUÇÃO Nº 24/2015

Institui a Medalha do Mérito Social CHICO GUILHERME da  Câmara Municipal de Mossoró e dá outras providências.

O Presidente da Câmara de Mossoró.

Faço saber que a Câmara Municipal aprovou e eu, com fundamento no artigo 52, Inciso V, da Lei Orgânica do Município de Mossoró  e art. 257, caput do Regimento Interno, promulgo a seguinte Resolução.

Art. 1º  Fica instituída a Medalha do Mérito Social Chico Guilherme da Câmara Municipal de Mossoró, concedida anualmente às pessoas que tenham seu trabalho reconhecido na área social.

Art. 2º 2ª Sessão concedidas até 02 (duas) medalhas anualmente na forma desta Resolução.

Art. 3º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação

Salas das Sessões “João Niceras de Morais”

Sede do Palácio Rodolfo Fernandes

Mossoró, 05 de novembro de 2015

JORIO NOGUEIRA – PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE MOSSORÓ

MOSSORÓ PERDE CHICO GUILHERME

Mossoró perdeu, no último domingo, um de suas figuras mais importantes. Morreu, aos 91 anos, vítima de infecção generalizada – provocada p...